SERGE DANEY ∙ PERSEVERANÇA
SERGE DANEY • PERSEVERANÇA • 2022 The Stone and The Plot 150 pgs • Entrevista com Serge Toubiana • Prefácio de Serge Toubiana • Posfácio de Paulo Branco • Grafismo de Rui Rasquinho • PVP 15€ • Linha de Sombra • Cinemateca Portuguesa.
“Foi Godard que primeiro assimilou o Cinema como um país, mais um país no mapa. Obviamente, gostei muito dessa ideia e retomei-a. O cinema era o país que falava no meu mapa. Perguntamo-nos agora se é um império, uma nação ou uma província. Era um império quando ainda existiam impérios. Quando eu era criança, nunca vimos filmes russos mas adorávamo-los por antecipação. Na verdade, sabíamos que os soviéticos faziam muitos filmes e pensávamos que isso era bom. Até os ingleses continuaram durante algum tempo. Mesmo quando Godard desenvolveu aquelas belas e fáceis metáforas sobre Hollywood-Mosfilm, já tinha acabado. Nada é mais cómico – e sem dúvida «humano»– do que a forma como no metemos medo com coisas outrora assustadoras, mas que já não o são há muito tempo. Parece que cada geração só «está preparada» para resolver os problemas dos seus predecessores. É a famosa noção de andar sempre «com uma guerra de atraso». Quanto à situação actual do país do cinema, este não é suficientemente vital para produzir algo comparável com o passado. Havia um império, é certo, mas isso permitia ao embaixador Eisenstein jogar ténis com Chaplin. Houve uma guerra mundial, mas isso permitiu que Buñuel e Ivens, sentados em Hollywood, escrevessem um guião para a Garbo. Mais perto de nós, quando Fassbinder retomou Sirk, quando Godard falou com Lang ou Glauber Rocha passou um raspanete «post mortem» a Pasolini, havia um país, porque havia verdadeiros habitantes que falavam a mesma língua.”
Serge Daney