OS FILMES DA MINHA VIDA • OS MEUS FILMES DA VIDA • JOÃO BÉNARD DA COSTA
OS FILMES DA MINHA VIDA • OS MEUS FILMES DA VIDA • João Bénard da Costa • 1990 Assírio & Alvim 292 pgs • Posfácio de Miguel Esteves Cardoso • Primeira edição das crónicas que JBC publicou no jornal O Independente • PVP 25€ • Linha de Sombra • Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema ■
Era inevitável. Tinha que ser. Se escrevo sobre «os filmes da minha vida», como podia ficar de fora «o filme da minha vida», my Johnny Guitar? Só mesmo quem não me conheça nem mais gordo nem mais magro, podia supor que um dia destes - mais cedo ou mais tarde - o Johnny Guitar não enchia esta página.
Faz parte das minhas lendas - como essa de dizer-se que sabia o Larousse de cor aos sete anos - atribuirem-me centenas de visões do Johnny Guitar. Num caso como noutro há exagero. Só vi o Johnny Guitar 68 vezes, entre 1957 e 1988. Dá para saber de cor? Nunca se sabe o Johnny Guitar de cor. Cada vez é uma nova vez.(…) Johnny Guitar é um filme em flashback sobre uma imensa elipse? Ou é uma imensa elipse construída sobre um flash que não pode “come back”? Ou será que é tudo a mesma coisa?
Não vou continuar. Como as coisas muito grandes, Johnny Guitar não se explica. Conta-se (vê-se) outra, outra e outra vez como as histórias que se contam às crianças, até que tudo se saiba de cor e que se aprenda que tudo está certo nelas. É a Imitação de Cristo dos cinéfilos. Basta abrir-se ao acaso e encontra-se a frase certa. Basta ver pela sexagésima oitava vez e encontra-se a resposta certa para o que se está a viver.
JOHNNY GUITAR, João Bénard da Costa
João Bénard é um homem bom. Não é um santo. Um santo é um ser que se sacrifica por uma causa profunda que o transcende. João Bénard é apenas um bom cristão que se sacrifica a uma causa profunda que faz parte dele. Um santo é como um crucifixo perfeito. É símbolo. É resignação. João Bénard é como uma bomba feita em casa. É dinamite. É paixão.
POSFÁCIO, Miguel Esteves Cardoso