O TRABALHO DAS IMAGENS ∙ ESTUDOS SOBRE O CINEMA E O MARXISMO ∙ SÉRGIO DIAS BRANCO
O TRABALHO DAS IMAGENS • ESTUDOS SOBRE O CINEMA E O MARXISMO • Sérgio Dias Branco • 2020 Página a Página 181 pgs • PVP 12€ • Linha de Sombra • Cinemateca Portuguesa.
“PALOMBELLA ROSSA (1989) permanece uma obra fundamental na filmografia de Nanni Moretti. Esta análise do filme foca-se no tema central da identidade. Michele Apicella, alter ego do cineasta, personagem recorrente dos filmes de Moretti que aqui faz a sua última aparição, tem um acidente de automóvel e acorda amnésico. Descobre depois que é membro do Partido Comunista Italiano (PCI) e vai-se cruzando com um grupo de personagens durante um jogo de pólo aquático. Michele reconstitui a sua identidade através destes encontros a pouco e pouco, mais através de dúvidas do que de certezas. Moretti antevia o perigo de desagregação do partido, ainda antes do fim dos estados socialistas da Europa de Leste e da dissociação da URSS dois anos depois. Crucial para entender este filme é a obra seguinte de Moretti, LA COSA (1990), que documenta uma série de plenários de discussão promovidos pelo PCI. O filme coloca em relação duas questões, como se elas não pudessem ser consideradas em separado: Quem é Michele Apicella? O que é ser comunista? Michele não conseguiria reconstituir a pessoa que é por si próprio. PALOMBELLA ROSSA apresenta a identidade como um facto colectivo através de uma estrutura alegórica que não dispensa os elementos realistas, suportada pela escrita das personagens, pela mise-en-scène, pela música, e pelo cruzamento de três sequências de imagens do passado do protagonista (em criança, em jovem adulto, e poucos dias antes do acidente num debate televisivo).”
A IDENTIDADE COMO FACTO COLECTIVO, Sérgio Dias Branco