O PESADELO DE AR CONDICIONADO • HENRY MILLER
O PESADELO DE AR CONDICIONADO • Henry Miller • 1988 Livros do Brasil 267 pgs • Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues • Capa de A. Pedro • PVP 10€ • Linha de Sombra • www.linhadesombra.com • Cinemateca Portuguesa ◼︎
“Os cinejornais prestam grande atenção a funerais diplomáticos, baptismos de couraçados, incêndios e explosões, campeonatos de atletismo, desfiles de beleza, modas, cosmética e discursos políticos. Os filmes educativos prestam grande atenção a máquinas, tecidos, objectos de utilidade e crime. Se está a travar-se uma guerra, é-nos dado um vislumbre de paisagem estrangeira. Obteremos, através do cinema e da rádio, mais ou menos tanta informação acerca de outros povos deste globo como os Marcianos acerca de nós. E esta separação abissal reflecte-se na fisionomia americana. Nas vilas e nas cidades encontramos o americano típico em toda a parte. A sua expressão é suave, agradável, pseudo-séria e definitivamente fátua. Geralmente veste com esmero um fato barato de pronto a vestir, usa sapatos engraxados, uma caneta de tinta permanente e um lápis na algibeira do peito e uma pasta debaixo do braço - e, claro, usa óculos, cujo modelo muda consoante a mudança de estilos. Dá a impressão de ter sido produzido por uma universidade com a ajuda de uma cadeia de lojas de capa-e-fato. São iguais uns aos outros, como os automóveis, os rádios e os telefones. Este é o tipo entre os vinte cinco e os quarenta anos. Depois dessa idade temos outro tipo: o homem de meia idade já equipado com uma dentadura postiça, que ofega e resfolega e teima usar cinto embora devesse usar funda. É um indivíduo que come e bebe demais, passa demasiado tempo sentado, fala demais e está sempre na iminência de um colapso. Morre frequentemente de ataque cardíaco passado poucos anos.”
Boa Notícia! Deus é Amor!, Henry Miller