MOLLOY • SAMUEL BECKETT
MOLLOY • Samuel Beckett • s/d Editorial Presença 256 pgs • Tradução de Rui Guedes da Silva • Arranjo Gráfico de FC • PVP 12,50€ • Livraria Linha de Sombra • Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema ◼︎
“Estou no quarto da minha progenitora. Sou eu quem cá vive agora. Nem sei como cá cheguei. Numa ambulância talvez, num veículo qualquer certamente. Ajudaram-me pois. Sozinho não teria cá chegado. Esse fulano que vem cá todas as semanas, talvez seja graças a ele que estou aqui. Ele diz que não. Dá-me um dinheirito e leva as folhas. Tantas folhas, tantas. Sim senhor, trabalho, um pouco como antigamente, simplesmente agora já não sei trabalhar. O que não tem importância, suponho. Quanto a mim, gostaria agora de falar das coisas que me restam, de fazer as minhas despedidas, de acabar de morrer. Eles não querem. Sim, são muitos, parece. Mas é sempre o mesmo que vem. Fará isso mais tarde, diz ele. Muito bem. Já não tenho muita vontade, como veem. Quando vem cá buscar as folhas, torna a trazer as da semana anterior. Vêm marcadas com sinais que não entendo. Aliás, nem as releio. Quando não faço nada, não me dá nada, ralha comigo. E no entanto, eu não trabalho por dinheiro. Por que trabalho, então? Nem sei. Não sei grande coisa, com franqueza.”
Capítulo 1, Beckett