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  • LOTE #3 CINEMA

LOTE #3 CINEMA

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LOTE #3 CINEMA • Edição de Maria Brás Ferreira, Tomás Gorjão & André Osório • 2021 Novembro 231 pgs • Revista de antologia poética e ensaios sobre cinema • Linha de Sombra • www.linhadesombra.com • Cinemateca ◼︎

“Abundam os estudos sobre o efeito do cinema na poesia e «poesia cinematográfica» tornou-se uma classificação comum e com enorme amplitude, na medida em que abrange um imenso território da produção poética. Muito mais problemático e menos frequente - ou frequentado - é o cinema que pode ser classificado como «cinema poético». Temos assim de concluir que são inumeráveis os poemas que respondem aos desafios lançados pela arte cinematográfica e integram processos análogos, mas já a linguagem do cinema não parece ter a mesma facilidade em elaborar as formas de expressão e os processos próprios da poesia. Uma explicação para esta assimetria reside certamente no facto de o cinema se ter desenvolvido e conquistado a sua autonomia enquanto forma eminentemente narrativa. Quem o disse de maneira exemplar, num discurso de grande alcance teórico e com elevada sofisticação analítica foi Pier Paolo Pasolini, numa comunicação que apresentou no 1 Festival do Novo Cinema, que teve lugar em Pesaro, em Junho de 1965. Essa comunicação tinha como título «O Cinema da Poesia« e foi incluída no seu livro de ensaios que chama Empirismo Herege. (…) Entre nós, não há exemplo maior de cinema de poesia que os filmes de Pedro Costa. Vejamos, por exemplo, a personagem de Ventura, em JUVENTUDE EM MARCHA. Ventura não é o herói de uma narrativa. A narrativa consistiria em contar, em encadear numa sequência lógica os nós de uma história. Ora, o que temos neste filme é muito mais uma recitação, uma repetição expressiva de palavras e imagens, de elementos que sobrevivem e polarizam novos significados. Ventura é a figura máxima do recitante.”

O CINEMA DA CESURA, António Guerreiro