JOÃO BOTELHO ∙ FILMES SÃO HISTÓRIAS, O CINEMA É O MODO DE AS FILMAR
JOÃO BOTELHO • FILMES SÃO HISTÓRIAS, O CINEMA É O MODO DE AS FILMAR • Organização de António Rodrigues & João Botelho • 2022 Cinemateca Portuguesa 216 pgs • Textos de José Manuel Costa, João Botelho, Antonio Rodrigues, Olivier Assayas, Fernando Cabral Martins, Bernardo Pinto de Almeida e Fernando Cabral Martins • Extensa entrevista de António Rodrigues ao realizador • Filmografia e calendário das sessões • Texto de JB sobre a sua carta branca • Grafismo de João Botelho & Nuno Rodrigues da Costa • PVP 15€ • Linha de Sombra • Cinemateca Portuguesa.
“Um cinema que impõe o fabricado, o artifício que é encenado, como acontecimento verdadeiro diante dos nossos olhos não é um grande cinema. Perante a “coisa” premeditada, organizada, enfim, manipulada, o ideal de verdade desaba. Tornar claro o obscuro é afirmar sempre desde os primeiros fotogramas que se trata de um espectáculo, bom ou mau que ele seja. Ver e ouvir (mesmo no mudo, as notas de um piano ou até de uma orquestra modelavam as expressões, as acções dos personagens e até as paisagens) e só depois sentir, ou, melhor, pensar. Agitar os neurónios, que o coração é apenas uma bomba que faz circular o sangue. (...) Luzes e sombras, seres humanos aflitos, uma hipótese de definição do cinema. Então utilizemos focos incidentes inclinados a três quartos, colocados ligeiramente mais altos da actores, a que se destina. Evitemos o sol do meio dia que não faz sombras e que tudo queima.”
LUZ E SOMBRAS, João Botelho
“Nasci, cito Dickens, há 73 anos em Lamego, uff! Algumas notas biográficas sem grande importância, estão no início da conversa com António Rodrigues que se prestou a organizar este catálogo e este Ciclo. O que importa é o que se faz, não como se vive. Estamos na terra para fazer, não para se ser. O EU é a pior invenção que os humanos criaram. «Quem inventou o espelho envenenou a alma humana», como eu gosto desta frase do Fernando Pessoa. Algumas circunstâncias ou pequenas, mas gloriosas catástrofes moldaram o meu modo de ser. (...) Não na vida, mas no cinema gosto mais de inquietação do que da consolação, de dúvidas do que de certezas e de perguntas, porque as respostas são de Nós e não de Eu. Uma retrospectiva quase integral de 35 filmes, curtas, longas, documentários, onde a única diferença são os temas e a duração da exibição porque para mim todos são cinema, é uma honra que agradeço à CP-MC, mas que também assusta, aflige porque aparece apontar o fim de um longo trabalho de mais de 40 anos, numa vertigem tão rápida. Não! Garanto que ainda vou tentar dar-vos muito trabalho.”
A MINHA LONGA VIDA, QUE PASSA TÃO DEPRESSA, João Botelho