ESCRITA E IMAGEM • ELISABETE MARQUES & RITA BENIS (ORG.)
ESCRITA E IMAGEM • Organização de Elisabete Marques & Rita Benis• 2021 Sistema Solar 271 pgs • Textos de Amândio Reis, Ana Bela Morais, Fernando Guerreiro, Golgona Anghel, Joana Matos Frias, João Oliveira Duarte, José Bértolo, Luís Mendonça, Maria Filomena Molder, Mariana Pinto dos Santos, Mário Avelar, Osvaldo Manuel Silvestre, Pedro Eiras, Rita Benis, Rosa Maria Martelo & Silvina Rodrigues Lopes • Na capa: Fotograma de UNE HISTOIRE DE VENT (1988) Joris Ivens • Linha de Sombra • www.linhadesombra.com • Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema◼︎
O livro Ars Magna Lucis et Umbrae, escrito pelo padre Athanasius Kircher em 1655 (conforme identificou Henri Langlois três séculos mais tarde, em 1955), ou os escritos do italiano Giovanni Battista della Porta, datados do século XVI (de que nos falou João Bénard da Costa), teorizavam já a escrita através das imagens em movimento (a cinematografia). Na verdade, desde a noite dos tempos que a humanidade brinca com as sombras, aguardado pela cinematografia: a origem e à procura de sombras animadas, a magia da movente imagem [...] O sonho do cinema, a magia das visões, é tão antiga quanto o homem o é» (Bénard da Costa 1996). É em 1895 que a cinematografia conhece finalmente o progresso técnico que a permite revelar-se em todo o seu esplendor. E a acompanhar esse sonho de cinema surge então uma outra forma de escrita, complementar: o argumento cinematográfico.
Argumento Cinematográfico E Imagem Em Movimento: Sobre O Uso (Leitura) Que Dá Vida Ao Escrito, Rita Benis
O fantasma é persistente embora adquira estados provisórios. Contagia memórias. Apodera-se do presente como uma gaguez. Torna-se mais real do que o próprio real. Os sujeitos vão-se constituindo enquanto efeitos do seu assombramento. Falam aqui e agora, mas desde o lugar do fantasma. Habitam um interregno opaco, uma antecâmara da morte, onde se cruzam, agarrados ao sonho e às ânsias, como figuras a agitarem-se no fundo das telas de Munch, como vozes que se abandonam ao próprio eco e aguardam um choque que lhes devolva a morte ou a possibilidade de outra vida. Mas qual? Como? Onde?
RAUL BRANDÃO E MANOEL DE OLIVEIRA: “A ALMA DESCARNADA DAS COISAS”, Golgona Anghel
As leituras que fazemos na infância e adolescência tornam-se parte da nossa memória; recorda-se tanto a verdadeira casa da avó, quanto as grutas onde os nossos heróis literários se escondiam de malfeitores. E por isso, do conjunto de imagens formativas da infância fazem parte as imagens que criámos a partir dos livros - sabia-se bem o poder formador das imagens literárias quando se determinava o que um rapaz ou uma rapariga deviam ler. Este livro (à semelhança de alguns outros publicados a seguir e de algumas séries de colagens) tem uma divisão em três partes, aqui com com os subtítulos «Enigmas», «Viagens», «Sobressaltos», num ritmo que aponta para princípio, meio e fim, mas onde nenhum princípio começa (é uma voz que parece já lá estar) e nenhum fim conclui. Em Biblioteca dos Rapazes, os tercetos de imagens recortasse dão uma cadência ao livro, repetitiva, um embalo m que é o das histórias, e o do cinema, mas que também é uma métrica da poesia, e obriga a paragens, pausas e interferências. A rigidez aparente dá o ritmo que acolhe a construção de palavras e imagens. E o poema faz-se de uma forma em que tanto pesa cada palavra escolhida como cada fragmento de imagem. Têm exactamente a mesma importância. Nada daqui é autonomizável, nem imagens, nem palavras, lêmo-los indestrinçáveis.
Escrever Com Tesouras. A Poesia-Colagem De Rui Pires Cabral, Mariana Pinto dos Santos